Rosario Castellanos é uma das mais eminentes e renomadas escritoras mexicanas do século XX. Com inúmeras obras premiadas e escritas em diferentes gêneros literários (ensaios, contos, romances e peças de teatro) denunciou a opressão das mulheres e a mitificação do feminino por sistemas culturais androcentricos e por sociedades patriarcais. Assumiu a bandeira feminista dos anos 70 e lutou com sua literatura e com sua força criativa contra a cultura machista de seu país, e inspirou mulheres em todo o continente americano, apesar ter ficado pouco conhecida no Brasil. No livro Mujer que sabe latín (1973) compilou suas ideias mais importantes sobre a subordinação feminina na sociedade e na peça de teatro El eterno femenino (1975) usou estas concepções como matéria para sua arte, criando de forma irônica e caricatural várias imagens da mulher mexicana a fim de denunciar o sexismo e a hipocrisia machista do país. Entre uma obra e a outra, retomamos alguns traços da força de sua literatura engajada e sua existência de luta através da palavra pela libertação da mulher e sua subordinação social.
Apesar da vasta quantidade de trabalhos, a escritora ainda é pouco conhecida no Brasil, ficando os estudos de suas obras relegados ao meios intelectualizados e sua leitura a pessoas que dominam o espanhol. Além de ser uma brilhante escritora e reconhecida com inúmeros prêmios no México e na América Latina — sendo inclusive ela mesma nome de um prêmio literário atualmente —, também era uma intelectual engajada com o problema da opressão das mulheres.
Antes de se consolidar como escritora, ela se formou em filosofia e defendeu uma dissertação de mestrado chamada “Sobre cultura femenina”, onde inspirada pela obra de Simone de Beauvoir — que acabava de aparecer na Europa e começava a ecoar na América Latina — questiona a cultura androcêntrica e patriarcal das sociedades ocidentais que abnegam a mulher e condenam sua existência social ao ambiente doméstico excluindo-a da cultura com base no mito de uma natureza feminina que, segundo ela, deve ser desmitificado.
A dissertação filosófica de Castellanos, no entanto, demorou muito a ser divulgada e costuma ser considerada como um de seus trabalhos menores cuja relevância foi ofuscada por seus textos literários, e também relegou a própria escritora ao rótulo de autora e não de filósofa. Fato que poderia ser explicável simplesmente pelo elevado nível literário de suas obras dignas de prêmio e sua escrita com maturidade — visto que o referido trabalho acadêmico foi elaborado quando a escritora ainda tinha 25 anos — ou simplesmente pelo uso restrito ao qual estão fadados todos os trabalhos acadêmicos. Um detalhe curioso que envolve este texto, porém, é que só foi publicado neste século — pela primeira vez em 2005 —, contrariando inclusive a tendencia do mercado editorial que costuma lançar obras menores de escritores famosos.
Independentemente da separação possível entre uma Rosario Castellanos filósofa e pensadora do feminismo e uma Rosario Castellanos escritora renomada de literatura, suas ficções também falamde mulheres e todos seus trabalhos estão claramente embebidos de suas concepções filosóficas (e políticas), em especial seus questionamentos sobre o que é ser mulher, seu lugar, seu papel e sua identidade no mundo, assim como sua crítica à organização sociocultural deste mundo que aliena sua existência.
Frente a esta personagem iconográfica da história da literatura latino-americana e ao conjunto de sua obra, o que proponho alinhavar nestas páginas é... (read more)
Texto publicado no dossiê Poéticas Feministas na História, Arte e Literatura na Revistas História: Questões & Debates, Curitiba, volume 67, n.1, p. 197-229, jan./jun. 2019
Link ara artigo completo: (aqui)
Mujer que sabe latín (1973) (PDF aqui)
El eterno femenino (1975) (PDF aqui)