Desde o início da epidemia do novo coronavírus, ainda em fevereiro, antes de a OMS declarar a covid-19 como uma pandemia, o filósofo italiano Giorgio Agamben começou a publicar pequenos artigos no site da editora Quodilbet. Recebeu muitas críticas e tem produzido intenso debate. No Brasil, a Boitempo reuniu no ebook Reflexões sobre a peste, edição e tradução de Isabella Marcatti, prefácio meu, num breve esforço de articular os artigos com a grande obra de filosofia política contemporânea, Homo sacer.
Por aqui, as críticas ao posicionamento de Agamben também foram muitas, entre as quais destacamos o artigo Agambem sendo Agamben - o filósofo e a invenção da pandemia, da filósofa Yara Frateschi (Unicamp), publicado no blog da Boitempo, e Modos colonizados de recepção filosófica - Notas a partir do caso Agamben, dos filósofos Jonnefer Barbosa (PUC-SP) e Vinícius Nicastro Honesko (UFPR).
Aqui no laboratório Filosofias do tempo do agora, fizemos dois esforços: um, coletivo, de estabelecer interlocução o artigo de Frateschi, publicando Agambem sendo Agamben - porque não?, de Carla Rodrigues, Ana Carolina Martins, Caio Paz, Isabela Pinho e Juliana de Moraes Monteiro. A este texto se somaram esforços individuais de reflexão por parte de pesquisadores/as de Agamben que puderam considerar os textos do filósofo na perspectiva mais ampla de sua obra.
Nesta direção, Juliana de Moraes Monteiro escreve Agamben contra o neoliberalismo, situando a desesperança agambeniana em relação a Marx e Gui Débord. Já Caio Paz persegue no filósofo a importância da crítica à ciência como detentora de um saber absoluto sobre a vida no texto Agamben pós-moderno? Inspirada em Agamben, mas não apenas, Isabela Pinho já havia publicado O messias à porta? Estado de exceção na era do coronavírus na revista Reflexiones Marginales.
Ana Carolina Martins traz para o debate a situação da cidade do Rio de Janeiro, em que às mortes por coronavírus se somam as mortes por violência policial. Esta semana, uma operação policial na região do Complexo do Alemão e 12 pessoas foram assassinadas. "Mesmo em um presente de alto risco, pensar uma comunidade em que o campo de concentração não será mais o paradigma biopolítico que mantém meramente vivos (ou quase mortos) os nossos corpos continua sendo uma emergência", escreve ela.
Embora esteja longe de ser um conjunto exaustivo de tudo que já foi dito e discutido em torno das críticas de Agamben, acreditamos que seja um modo de reforçar um dos nossos argumentos: as numerosas respostas, críticas e reações em diferentes lugares, com interlocutores discordando ou concordando com ele, servem de constatação da importância das suas intervenções no debate público.
A editora Boitempo acompanha algumas destas intervenções no Dossiê: Coronavírus e sociedade.
No site da editora N-1 há também um excelente conjunto de textos, entitulado Pandemia crítica, reunindo reflexões urgentes diante do que, com naturalidade, já está sendo chamado de "novo normal".
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